O café e a democracia não lecionada
(luiz alfredo motta fontana)
Nhô Cansado, compadre de Sinhá Sensata, levava seu Ramenzoni para o passeio matinal. Sim, ele ainda cultivava o hábito de vestir chapéus, sem os quais a sensação de nudez era inevitável. como de praxe, após os costumeiros cumprimentos aos conhecidos, entremeados de ligeiros acenos aos estranhos, entrou no Café Avenida, em busca da bebida afável, que precedia o pitar em paz.
- "Você sabe que não sou eleitor do Lula, mas, convenhamos, o homem está dando conta do recado..."
A frase entoada em forma de louvação pertencia ao senhor de bermuda clara, camisa polo azul, encimado em tênis amarelo. O mesmo homem que durante a semana, vestindo indefectíveis paletós e berrantes gravatas, errava pelo centro, sempre com pasta a mão, no velho e conhecido intento de demonstrar atividade, prática essa por demais ausente de sua banca de advocacia. Na qual se via, em letras enormes, talhadas em metal dourado: Dr. Orostrato, o popular Orô.
A vítima do dia, que sequer ousava discordar, mantinha o olhar reverencial, pronto para oferecer fogo, caso o causídico resolvesse fumar, ou até mesmo, após enormes escusas, espantar alguma borboleta que ousasse pousar em doutos ombros, era Justinho, filho querido de Justo, e sobrinho de muita gente conhecida e posicionada na sociedade local. Formado sabe se lá em que condições, em ciências jurídicas, como gostava de afirmar, e que, entre outras fantasias, sonhava, em vão, é de se reconhecer, em trabalhar ao lado de tão luminar figura.
NhôCansado, fingindo não ouvir, embora a voz fosse entoada como se ministrando aula em auditório vasto, entretinha-se em borrifar canela no café, quando os seus ouvidos, já não portadores da acuidade de outrora, foi submetido ao que parecia ser tortura de espiríto:
- "Dilma realizará o governo que o povo brasileiro tanto anseia, ela tem todas as qualidades para tal, espere e verá, uma nova deusa da democracia será reconhecida por todos..."
Já guardando o troco, Nhô Cansado pensava, lá com seus botões:
Estranho curso, esse de direito, consta nele, inclusive o tal do Direito Constitucional, e esse portador de anel de doutor, louva uma senhora que em nome de suas convicções, em nada democráticas, aceita até, e de forma literal, mudar a própria imagem, para satisfazer o capricho do chefe de ocasião.
Estranho curso, estranho mundo, e como sempre, de habitual, apenas a ilusão de um povo, o brasileiro, sempre a caminho da redenção num futuro adiado com precisão suiça.
Na esquina, com o olhar perdido entre as arvores que guarneciam o Forum, Nhô Cansado, picava o fumo e cortava a palha, com a sabedoria de quem sabe que em certas plagas, o que muda é o tempo, e assim mesmo, não mais com a previsibilidade de antigamente.
- "Você sabe que não sou eleitor do Lula, mas, convenhamos, o homem está dando conta do recado..."
A frase entoada em forma de louvação pertencia ao senhor de bermuda clara, camisa polo azul, encimado em tênis amarelo. O mesmo homem que durante a semana, vestindo indefectíveis paletós e berrantes gravatas, errava pelo centro, sempre com pasta a mão, no velho e conhecido intento de demonstrar atividade, prática essa por demais ausente de sua banca de advocacia. Na qual se via, em letras enormes, talhadas em metal dourado: Dr. Orostrato, o popular Orô.
A vítima do dia, que sequer ousava discordar, mantinha o olhar reverencial, pronto para oferecer fogo, caso o causídico resolvesse fumar, ou até mesmo, após enormes escusas, espantar alguma borboleta que ousasse pousar em doutos ombros, era Justinho, filho querido de Justo, e sobrinho de muita gente conhecida e posicionada na sociedade local. Formado sabe se lá em que condições, em ciências jurídicas, como gostava de afirmar, e que, entre outras fantasias, sonhava, em vão, é de se reconhecer, em trabalhar ao lado de tão luminar figura.
NhôCansado, fingindo não ouvir, embora a voz fosse entoada como se ministrando aula em auditório vasto, entretinha-se em borrifar canela no café, quando os seus ouvidos, já não portadores da acuidade de outrora, foi submetido ao que parecia ser tortura de espiríto:
- "Dilma realizará o governo que o povo brasileiro tanto anseia, ela tem todas as qualidades para tal, espere e verá, uma nova deusa da democracia será reconhecida por todos..."
Já guardando o troco, Nhô Cansado pensava, lá com seus botões:
Estranho curso, esse de direito, consta nele, inclusive o tal do Direito Constitucional, e esse portador de anel de doutor, louva uma senhora que em nome de suas convicções, em nada democráticas, aceita até, e de forma literal, mudar a própria imagem, para satisfazer o capricho do chefe de ocasião.
Estranho curso, estranho mundo, e como sempre, de habitual, apenas a ilusão de um povo, o brasileiro, sempre a caminho da redenção num futuro adiado com precisão suiça.
Na esquina, com o olhar perdido entre as arvores que guarneciam o Forum, Nhô Cansado, picava o fumo e cortava a palha, com a sabedoria de quem sabe que em certas plagas, o que muda é o tempo, e assim mesmo, não mais com a previsibilidade de antigamente.
Fontana eu adoro café; e esse seu conto me meteu de saudades do meu interior...
ResponderExcluir