domingo, 24 de outubro de 2010

Prosa na estante

   

 
Pequeno conto de horror


(luiz alfredo motta fontana)


O cansaço parecia vencer, o seu caminhar já não era firme, a respiração ofegante, sinais da falência iminente.
O quarteirão parecia enorme, o bar, na esquina, quase inatingível. A visão embaralhada mal percebia o velho letreiro.
Foi quando parou, apoiou-se na mureta de um sobrado, aquele azul, com um jardim imenso, mas sempre de portas e janelas cerradas.
Descansou, sorveu a brisa da madrugada, avaliou a própria tibieza, e finalmente resolveu:
- Sentirei falta de ti
Balbuciou, enquanto tirava do bolso um papelucho amarelecido pelo tempo.
Por um  breve momento exitou, mas não lhe era dada a escolha. Deixou cair  o bilhete, e voltou a caminhar.
Ao entrar no bar e ajeitar-se junto ao balcão, sorriu manso, enquanto o garçon já lhe servia "o de sempre".

Na calçada, rente à mureta, lia-se:

"Liberdade solitária é castigo"

Letras bordadas e firmes, assinado:

-Maria

Ao amanhecer, uma brisa nova levou o bilhete, e com ele, as lembranças.

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