Pequeno conto de horror
(luiz alfredo motta fontana)
O cansaço parecia vencer, o seu caminhar já não era firme, a respiração ofegante, sinais da falência iminente.
O quarteirão parecia enorme, o bar, na esquina, quase inatingível. A visão embaralhada mal percebia o velho letreiro.
Foi quando parou, apoiou-se na mureta de um sobrado, aquele azul, com um jardim imenso, mas sempre de portas e janelas cerradas.
Descansou, sorveu a brisa da madrugada, avaliou a própria tibieza, e finalmente resolveu:
- Sentirei falta de ti
Balbuciou, enquanto tirava do bolso um papelucho amarelecido pelo tempo.
Por um breve momento exitou, mas não lhe era dada a escolha. Deixou cair o bilhete, e voltou a caminhar.
Ao entrar no bar e ajeitar-se junto ao balcão, sorriu manso, enquanto o garçon já lhe servia "o de sempre".
Na calçada, rente à mureta, lia-se:
"Liberdade solitária é castigo"
Letras bordadas e firmes, assinado:
-Maria
Ao amanhecer, uma brisa nova levou o bilhete, e com ele, as lembranças.
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